31 de outubro de 2009

Só Léria

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Ouvi, no comecinho da tarde do último sábado, pelas ondas da Veneza FM, o programa Mesa redonda com Paulo Marinho. Há um bom tempo não gastava audição com a verborréia estilizada do ex-deputado, que se repete sempre pela falação enfadonha ao confeitar os próprios feitos, além da mania de discorrer sobre assuntos os quais estufa léria com ar de sabe tudo.



Por duas horas ininterruptas o comentarista lecionou obviedades da problemática a qual vive o campesinato: falta de fomento à tecnologia, ao crédito e acesso à terra versus a potencialidade natural edafoclimática (água/calor/luminosidade solar) do nosso meio-ambiente. Ora, admitidas essas premissas que são verdadeiras há o que se questionar apenas: o que está por trás desses argumentos artificiais do abnegado Paulo Marinho? É porque quem cochila embalado por sua lábia é capaz de sonhar com o paraíso das terras do bem-virá.



Assim, quando o ouço tentando persuadir ouvidos lassos de esperança, recordo-me da fábula da raposa, que perseguida por um cão conseguiu ocultar-se numa caverna, e quando se considerava a salvo eis que aparece ao fundo um leão: - “Pobre de mim – exclamou a raposa – escondi-me para me livrar de um cão e vim cair nas garras de um leão”.  


29 de outubro de 2009

Nem pra Inglês ver

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Na passagem da governadora biônica Roseana Sarney por Aldeias Altas, agora, na última quarta-feira, uma faixa pintada com dizeres em ingrês: “Yes, we, want” (Sim, nós queremos), se destacava da candonguice coletiva. A mensagem que queria imitar o slogan “Yes, we can” (Sim, nós podemos), da campanha dos democratas americanos fora obra do esdrúxulo casal Nota 10 (Fernanda e Magno Bacelar), e estava esticada num dos prédios de propriedade da dupla, que no mínimo se considera o próprio par Obama das aldeias. A ideia, naturalmente que concebida no cagatório, provocou piada na cidade, foi motivo de chacota e virou ponto turístico de curiosidade, adivinhação.



A faixa que fora confeccionada para chamar a atenção da governadora, que nem de soslaio observou tal invencionice, caiu mesmo foi no gosto popular, com sotaque bem sertanejo e tradução das mais variadas: Siô, tradiz aquilo ali pra mim - pedia o cumpade. Ao que o outro na lata respondeu: Hem, hem, nós fudemos.

28 de outubro de 2009

Se eu tivesse lido antes...

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Tô lendo o livro Poética de um cara chamado Aristóteles. Um livro chato pra caramba. Para ser pior ainda, o cara teve a pachora de escrever sobre o trabalho do poeta e da estrutura da poesia, isto só para citar alguns dos temas do tal livro. Devo antecipar que estou lendo o tal livro por obrigação. Mas eu me perguntaria se o mencionado autor viveu poeticamente ou foi somente um teórico da poesia. Se foi poeta tá perdoado por escrever as besteiras que escreveu. Se não teve uma vida poética "não há perdão para o chato“.


Eu falo por mim, eu falo por alguns poetas que não aprenderam num banco de escola a fazer poesia, eu falo pelos que vivem e viveram a poesia, tão decantada, tão descartada. Eu diria que se esses, como eu, tivessem lido algo parecido com o tal livro Poética, teriam desistido do ofício mal-renumerado já na primeira página, onde o tal Ari, para os íntimos e as brancas dele, diz: da própria poesia e seus gêneros, que efeitos tem cada um e como suas ações devem ser ligadas, se a poesia pretende ser boa... Ou algo assim.


Boa ou não, a minha poesia nasceu sem teorias, sem gregos e troianos. A minha escola foi o bar do Cantarelli, foram as discussões poéticas com Bastiani, Renato e Ribinha, foi o observar fazer poético de Elio Ferreira e o livro Antologia Poética de Ferreira Gullar, que Elio me enviou desde Campo Grande (MS) para Sampa em 1981. A minha poesia, ora boa, ora ruim segue só uma idéia: "Aquele homem que cria suas próprias regras poéticas pode se considerar um poeta“ (Maiakóvski).

Fábio Kerouac, poeta e ex-lavador de pratos


Hamburg, Alemanha

27 de outubro de 2009

Extra, extra!

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Um jornaleiro apregoou, e eu ouvi muito bem, que a Schin de Caxias está prestes a ficar de olhinhos puxados, né? Pois é. A fábrica está sendo vendida para um grupo japonês. Não dá pra dizer ainda o nome do grupo porque essas coisas do oriente sempre me deixam meio desorientado. Principalmente quando penso que a riqueza natural de Caxias e o suor de caxienses vai entrar nos tonéis da empresa e sair no bolso dos japinhas, lá, do outro lado do mundo. E é por isso que eu digo: "Schin? Nem que a vaca tussa".

CRÔNICA DA SEMANA

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Dinir Silva
(Do livro: "Minhas Histórias") 

III

Madri e Paris representam capítulos à parte em nossas crônicas.

Sim, Madri é simpática, povo bom, cidade repleta de palácios suntuosos e avenidas largas, com parques maravilhosos, as tradicionais touradas - a que acabamos de assistir - e boites flamengas, desde as tipicas às mais modernas, mostrando-nos outros cenários, outras gentes, outros costumes, lugar onde o povo ganha pouco e trabalha muito, mas é - ou sabe aparentar ser - muito feliz.

Gostei de Madri. Conhecê-la foi um vívido prazer, mas Paris é a cidade europeia realmente cativante, adoração dos turistas, muitos dos quais não voltam mais à sua pátria, presos por irresistível amor à Cidade Luz ou impossibilitados de levantar dinheiro para o regresso que na verdade não querem mais fazer.

O famosíssimo Cafe de la Paix, reduto de escritores, artistas, políticos e intelectuais em geral, nos prende em suas mesas, ao tempo que olhamos o povo que desfila sem cessar.

Paris tem dois mil anos de juventude e beleza. Nela há encantadores "bistrôs", estranhíssimos "caves" de iê-iê-iê e strip-tease, espetáculos apaches, boites de todo tipo, teatros famosos, passeios preguiçosos no Sena. E só o Louvre, por exemplo, bastaria na linha da Erudição.

A mulher tem sua vez em Paris, estonteantes desfiles de modas, ao vivo, e nas vitrines dos grandes e incomparáveis magazines, as belezas que nos deixam paralisadas horas inteiras. Perfumes, jóias, tentações em cosméticos, peles. Paris, uma cidade bela, luminosa, na qual nos sentimos felizes pelo simples fato de estarmos nela, respirando sua arte, sua beleza, passeando pelas galerias do Rivoli, pelas ruas de Monmartre, pela avenida da Ópera, pelos Champs Elisées e pelos jardins de Versailles.

Seus imensos magazines, o "printemps", a Galeria Lafayette", "Bon Marché", e só damos conta mesmo de nós quando a sineta bate anunciando o encerramento do dia.

E assim vamos deixar Paris saudosamente, pretendendo, porém, em breve a ela regressar.

26 de outubro de 2009

NO DIVÃ DAS PALAVRAS

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Gilvaldo Quinzeiro


A FILOSOFIA CABOCLA, RISCAR O CHÃO



O caboclo quando risca o chão está pensando. Aliás, no caboclês ou no nheengatu se diz matutar. Riscar, pois, o chão com a ponta dos dedos, significa manipular com as mãos o abstrato, ou seja, pensar usando a “cabeça dos dedos”, termo bem apropriado para a filosofia cabocla. Diga-se de passagem, que a “filosofia cabocla” é a única que tem explicação para tudo, do contrário o que seria o viver destes homens? “Quem não pode com a “rudia” não pega no pote” - diz assertiva cabocla.

Besta é quem pensa que matuto não vive de matutar! Aliás, nas condições enfrentadas pelo caboclo, o pensamento que não corresponde à praticidade, é o mesmo que riscar o chão com o dedo para depois ter o risco apagado pelo vento, o que levou em seguida o caboclo a fazer uso de um graveto para, não obstante as intempéries, continuar o seu pensar, isto é, riscando o chão.

Riscar o chão com o graveto em substituição aos dedos não só significou apenas deixar marcas humanas mais profundas na imensidão do chão, como também um sinal de desejo em perpetuar o que só em outras regiões, tal como no Egito se conseguiu ao substituir o chão pelas pedras.

“São as pedras que nos ensinam os caminhos!”. As marcas indeléveis cravadas nas pedras, desta feita com uso dos dedos banhados em sangue - anunciaram também que pensar é ter poder, e que este, assim como as pedras, tem que ser perpetuado a todo custo!

Os soberanos mesopotâmicos, astecas e egípcios souberam bem petrificar sua soberania escrevendo leis ou erigindo túmulos e templos em pedras.

Os nossos caboclos, no entanto, mesmo sem edificar nada em pedras, e tendo seus riscos no chão varridos pelo vento, criaram uma das mais sábias e prósperas das civilizações - a Civilização da Mandioca  extraindo de um veneno em potencial, a mandioca, sua principal fonte de alimento. E na farinhada o conhecimento da “química”, da “física”, tudo isso sem perder de vista a socialização. Isso sem falar nos vários derivados da mandioca, a saber, a farinha de puba, a farinha branca, o grolado, a tapioca, o beiju etc.

Hoje, porém, no tempo em que há manga e caju apodrecendo no chão dos quintais, enquanto os meninos se empanturram de biscoitos recheados, sucos artificiais e enlatados, riscar o chão com o dedo significaria, no mínimo, usar mais a cabeça do que a bunda!

23 de outubro de 2009

Entrevista com Palmério Dória

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Entrevista Com Palmério Dória
(Geração Editorial)

Quando começou a pesquisar sobre a vida de Sarney e seus colegas da política?

O Sarney é um cara antigo na minha vida. Tudo começou quando eu era diretor do jornal. “O Nacional”, no Rio de Janeiro, um semanário criado em 1986, de oposição a Sarney. O prato principal deste veículo era denunciar a política da Nova República. Eu era diretor de redação desta derradeira aventura de Tarso de Castro, o inventor do “Pasquim”, conhecido por formar sempre uma equipe de peso. Na lista dos colaboradores vale relembrar de alguns nomes como Cláudio Abramo, Rubem de Azevedo Lima, Paulo Caruso, Fortuna, Moacir Werneck de Castro, Eric Nepomuceno, Luis Carlos Cabral, Alex Solnik e o próprio Myltainho, que chefiava a sucursal paulista. Outro momento em que fiquei de frente novamente com o Sarney foi em 2000, quando começaram a especular a possível candidatura de Roseana Sarney para a presidência da República. No final de 2001 eu fui para São Luís do Maranhão cercar a vida dele e de toda a família. Depois publiquei no começo de 2002 uma matéria na revista “Caros Amigos”, “O nome dela é Roseana, mas pode chamar de Sarney”. Neste texto ela foi apresentada como a “número 1 do miserê”. Neste texto eu dizia onde o Maranhão era governado: na sede da Lunus do Jorge Murad. Uma semana depois de a revista ir para as bancas, por coincidência ou não, a Polícia Federal veio a estourar o local e encontraram neste endereço mais de um milhão de reais num cofre. Foi aí que a candidatura dela desabou. Na seqüência, eu publiquei o livro: “A candidata que virou picolé”, pela editora Casa Amarela. E um ano antes de o Sarney virar pela terceira vez presidente do Senado eu já estava na cola dele em razão da investigação da polícia federal sobre o filho dele, o Fernando, com a já famosa operação Boi Barrica.

Por que o coronel do Maranhão é um personagem quente?

Quando eu conversei com um historiador, Joel Rufino dos Santos, ele me perguntou, assim de brincadeira, “quem é o Sarney”? Parecia não ser um personagem quente. Mas ele nunca deixou de ter o poder da caneta, o poder de nomear, ele nunca deixou de indicar e de participar de todos os governos. Eles tinham a impressão que ele era um personagem menor, isso há alguns anos antes de ele assumir o Senado. Na ditadura ou fora dela ele sempre manteve o poder. O setor elétrico, por exemplo, é todo dele!

O coronel parece que nunca vai cair,
ele está mais firme do que nunca.
José Sarney é sem dúvida o
honorável dos honoráveis.

Você escreveu o livro ao mesmo tempo em que os escândalos iam estourando?

No livro o leitor vai se deparar simultaneamente com o que imprensa divulgava naquele momento e o que já havíamos investigado por nossa conta. É uma leitura que vai proporcionar também uma visão sobre a cobertura que a mídia fez sobre os fatos. Todas as apostas na queda dele eram irreais. Mas depois eu percebi que realmente o livro estava correto na sua narrativa. O coronel parece que nunca vai cair, ele está mais firme do que nunca. Sarney é sem dúvida o honorável dos honoráveis.

O coronelismo está em extinção?

Sarney é um sobrevivente de uma geração, mas ele não é para sempre. Certamente seus seguidores continuaram a adotar a cartilha do mestre. Ele é um novelo de mentiras, vai envolvendo todo mundo. Neste livro o leitor vai saber como o poderoso consegue manipular tanta gente. Ele é o cara que as pessoas dão como morto, mas depois aparece como aquelas almas mal-assombradas num cemitério. Ele é o mais arguto, o mais habilidoso dos animais políticos em cena no país. Quem não enxerga isso será sempre enrolado pelo Sarney. Agora ele tem que estar vivo e atuante para eleger o Fernando Sarney – o cérebro financeiro da família – e dar-lhe imunidade parlamentar A verdade é que os filhos dependem dele.

Lula é refém dele. Há quem diga que Lula
governa, mas quem manda é o Sarney.

Como será a política brasileira depois da era Sarney?

Os seguidores estão espalhados. Vai continuar de uma forma mais baixa, sem coronel mas com os métodos que o consagraram. O Sarney é um caro temido, ninguém o ama. O ACM era um cara estimado por parte da população baiana. O Sarney é temido. O sarneismo sem Sarney será pior ainda. De hora em hora, Deus piora. Lula é refém dele. Há quem diga que Lula governa, mas quem manda é o Sarney.

Você acredita na reforma política?

Não há interesse dos políticos para que isso ocorra, ou seja, sempre ficará a mesma coisa. As velhas lideranças estão desgastadas e o eleitorado não acredita em mais ninguém. O cinismo tomou conta da classe política e da própria população. A tarefa que resta para o jornalista é continuar contando. Os quadros políticos são pavorosos. Basta olhar as lideranças políticas para perder qualquer esperança. Cito: Collor é fiscal do PAC; Almeida Lima é fiscal do Orçamento da União; Wellington Salgado faz parte da Comissão de Constituição e Justiça.

Você conhece o Sarney?

Só vi o Sarney de perto uma vez na vida, na sabatina da “Folha de S. Paulo” em agosto de 2008, perto de estourarem os escândalos contra o Fernando Sarney. Tinha pouquíssima gente, uma mesa formada pelos principais jornalistas da “Folha”, mediada pelo Clóvis Rossi que abriu o papo dizendo que os brasileiros tinham uma relação de amor e ódio com o Sarney. Mas quem ama José Sarney? Só a dona Marly.

22 de outubro de 2009

Maria, Simplesmente Maria.

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Por: Thania Klycia

Caxias ultimamente tem vivido um retorno às atividades teatrais que nos enche o espírito de esperanças. Os grupos voltaram a florescer, o público também tem se mostrado receptivo, o que nos faz pensar alegremente numa efervescência para os dias futuros.




A existência das atividades artísticas está diretamente vinculada à atuação das atividades críticas. E quando se fala em crítica, está-se reportando à análise, à exposição de comentários acerca dos trabalhos apresentados. A importância da avaliação crítica diz respeito justamente à criação de um parâmetro, que é o que garante a qualidade e a validade dos trabalhos artísticos que são produzidos. Embora alguns artistas se incomodem com as investidas dos críticos, vale lembrar que esse tipo de julgamento é essencial para a continuidade do desempenho dos mesmos, porque além de promover os trabalhos, aponta acertos e falhas, concorrendo assim para a melhoria da qualidade e refinando o gosto do público.



Os críticos avaliam a qualidade técnica dos trabalhos, sem negligenciar a interação com a sociedade, suscitada pela apresentação dos objetos artísticos em questão. De antemão, o primeiro ponto a ser analisado, é o objetivo almejado pelo artista, pertencente a qualquer modalidade. A arte, embora não necessite apresentar alguma utilidade prática, necessita apresentar finalidades. Um trabalho a ser exibido para um determinado público antes de qualquer coisa, precisa ter uma razão de ser.


Uma peça teatral, mais especificamente, deve conduzir seus espectadores a algum fim. O texto teatral não é qualquer texto, ele deve ser bem articulado de maneira que a história seja bem conduzida e possa alcançar as pessoas que estão assistindo. Quando um ator está no palco, seja para fazer rir ou para fazer chorar, ele deve possuir um objetivo, assim como os elementos cênicos como iluminação e som também devem atuar da mesma forma.


Toda essa introdução deve-se à justificativa do trabalho de análise exercido pela Causthica Revista Cultural, que tem se empenhado na busca e no cultivo de uma qualidade artística ainda inexistente na cidade de Caxias. A intenção da avaliação crítica no tocante à arte e à cultura em geral, é uma necessidade que diz respeito à construção e desenvolvimento de artistas de qualidade na região. Um trabalho não pode deixar de ser analisado por quem está sentado na platéia, pois isso contribui para a repetição de erros e estagnação do artista.


No dia 17 de outubro foi a estreia da peça teatral “Maria, simplesmente Maria”, do Grupo Teatral (EAVA) Fênix, com direção de Érika Almeida, no auditório do Centro de Cultura. A peça teve a duração de quatro horas e narrou a história de cinco mulheres, cinco “Marias”, de nacionalidades diferentes, que tiveram os destinos cruzados no famoso Café Society do Rio de Janeiro, no final do século XIX. A trama se focalizou nas desventuras de Maria Padilha, uma espanhola que fugia de um casamento forçado com um homem rico, porém violento, contando também com o reencontro de um grande amor do passado.



A realização da peça em si, já pode ser apontada como o maior ponto positivo do evento, pois demonstrou o interesse não só dos produtores, como do público, que por sinal, esteve presente em bom número. Figurinos bem trabalhados também enfeitaram o palco com muitas cores, embora com alguns deslizes quanto à contextualização.


O trabalho técnico dos atores deixou a desejar em aspectos como entonação, dicção e linearidade. A impressão que deixou foi a de que houve uma lacuna na direção. O desenvolvimento da peça tornou-se enfadonho devido a repetições de cenas desnecessárias, cenas sem finalidade, clichês como piadas antigas e homossexualismo. A dificuldade para ouvir e compreender as falas com sotaques estranhos, além de erros gritantes como atores falando de costas para o público, também contribuíram para que as horas se alongassem ainda mais no calor do auditório – diga-se de passagem, sucateado, vergonhosamente, jogado às traças.



Um outro ponto que não pode deixar de ser mencionado é a carência do texto, que apagou personagens como a índia Maria Ana e a negra Maria Molambo. Sem contar com as já mencionadas cenas supérfluas, além da incoerência da estadia de crianças no cabaré onde suas mães trabalhavam – o auge foi a exibição de nudez infantil, desnecessária e absurda.



Retirados os exageros de energia dos atores em algumas cenas, ainda restam como problemas as dublagens, as coreografias descontextualizadas e a dificuldade de encontrar um gênero para a peça. Seria uma “tragicomédia?”. Embora houvesse cenas dramáticas, a mistura de ritmos, de sotaques e figurinos fez o público sorrir o suficiente. Fica a pergunta se todos esses elementos que não se casavam foram intencionais ou se foram realmente deslizes.


Para finalizar, a peça necessita de uma trama mais bem amarrada, precisa ser lapidada para que as pontas sobressalentes não incomodem o público. O elenco mostrou-se razoável e capaz de ser treinado para que, naturalmente, possa evoluir e continuar oferecendo aos cidadãos de Caxias o teatro como forma de entretenimento. De qualquer forma, a iniciativa foi louvável, e o desejo é que os erros sejam corrigidos para que possam nos surpreender futuramente.

21 de outubro de 2009

CRÔNICA DA SEMANA

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Francisco Caldas Medeiros
(do livro: Aconteceu em Caxias)

Foi no primeiro ano da última década do século passado que foi fundada a Companhia das Águas de Caxias.


Nesse tempo, encontrava-se nesta cidade o Dr. Aarão Reis, que acabava de ocupar o cargo de consultor técnico do Ministério da Viação e Obras Públicas, e aqui estava na qualidade de fundador e presidente da Companhia Geral de Melhoramentos do Maranhão, que vinha iniciar os serviços da construção da 1ª estrada de ferro no Maranhão, - Estrada de Ferro - Caxias - Cajazeiras.


A diretoria da Companhia das águas de Caxias, representada por Dias Carneiro e José Cruz, convidou Aarão Reis, que era casado com uma caxiense, filha do político Senador Furtado, para fazer os estudos preliminares para o abastecimento d'água em Caxias. O convite foi aceito com muita satisfação, e, sem tempo a perder, Aarão Reis começou logo a examinar detidamente todo o Riacho do Ponte, medindo as águas de todas as suas nascentes.


Foi escolhido o manancial "Chico Coelho".


O Euclides Brasileiro apresentou à Diretoria da Companhia das Águas de Caxias um luminoso relatório no qual concluiu dizendo - enquanto a população de Caxias não atingir 20.000 habitantes, o Riacho do Ponte poderá supri-la, mas desde que passe desse número, só a elevação do rio Itapecuru poderá abastecê-la. O serviço foi começado no fim do ano de 1891, e em 93, dois anos depois - Caxias estava com as suas 400 e tantas torneiras dando água com abundância.


Depois de quase 70 anos, o serviço d'água em Caxias passou a pertencer ao SESP ou SAAE.

Nem que a Vaca Tussa

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A nossa cruzada por Caxias, contra a irresponsabilidade social da Schin, tem ganhado adeptos, valentes cavaleiros, com nome e sem nome, na defesa de nossa terra. A seguir alguns de seus comentários.




Anônimo 1:

Rapaz, pela primeira vez leio algo sensato sobre a instalação da schin em Caxias. Realmente, não dá pra aguentar tamanho desprezo com a cidade. Isenção de impostos, degradação do meio ambiente, cerveja com preço mais alto, e ainda obrigam os bares a venderem somente os produtos Schin. Você chega a um bar e não tem alternativa, ou bebe Schin ou água.
Augusto Neto:

A Schincariol, nem mesmo em seus comerciais, faz quaisquer referencias à sua unidade de Caxias. Aqui, sua política capitalista é a mais vil possível: suga o nosso líquido precioso, nossa água; explora nossos humildes trabalhadores; polui o riacho do Sanharó e o rio Itapecuru, fora todo o impacto ambiental com a ocupação da área que margea o riacho dos Inhamuns e a exploração do lençol freático com a perfuração de dezenas de poços artesianos. É isso aí, poeta, tô com você nessa luta!
Paulo Monteiro:

Prezado Renato, boa noite! De Bauru - SP, apelidada de terra branca, por vezes "mato" um cadinho da saudade do jeito do povo de Caxias através de suas palavras! Me associo a você na campanha anti-Schin. Prepare-se, vão te procurar para patrocinar um banner no seu blogue!
Ezíquio:

Renato, até hoje me pergunto qual a vantagem em se ter uma fabrica da Schin em Caxias. Vejamos: Além do municipio não receber nada como impostos, a empresa não ter programas sociais na cidade, ter sub-empregos para caxienses, explorar nossas águas sem maior fiscalização... se não bastasse tudo isso, ainda pagamos a cerveja Schin mais cara do Maranhão e Piaui. É ou não é um negocio da Schina?

Anônimo 2:

Camarada Renato,também estou fazendo minha parte. Reproduzi seu belissimo texto e estou enviando para meus contatos, pedindo que vire uma corrente. Você acertou em cheio; parabéns!
Ana Cléia:

Renato, parabéns pelo texto "Nem que a vaca tussa". Tô contigo e não abro. Há meses tento uma visita à fábrica com meus alunos e eles ficam me enrolando. É um desrespeito. Estamos desenvolvendo um trabalho sobre o impacto ambiental gerado por indústrias em Caxias. Talvez seja por isso.

16 de outubro de 2009

Nem que Vaca Tussa

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No ano de 2001 de Nosso Senhor Jesus Cristo, foi celebrado convênio entre o município de Caxias e a empresa Primo Schincariol, com o objetivo de instalar uma fábrica para industrialização/envazamento de cervejas, refrigerantes e águas minerais. Oito anos mais tarde, revendo as cláusulas do tal instrumento de contrato, vê-se que o município angariou apenas obrigações: concedeu isenção do ISS e do IPTU pelo prazo de vinte e cinco anos, além de quaisquer taxas devidas em decorrência da implantação, instalação, ampliação e funcionamento da fábrica, como, também, de suas empresas controladas, coligadas e interligadas que aqui vierem a se estabelecer. Enfim, um negócio da China até o ano de 2026.



Não sei nem calcular o tamanho dessa desobrigação toda por tanto tempo, mas creio que nesse médio prazo a empresa abaterá um bom bocado do investimento feito; sem contar que, aqui, explora a principal matéria prima da cerveja encontrada em abundância, qualidade e gosto bom; sem contar, também, com as vantagens adquiridas dos incentivos fiscais concedidos pelo Estado e a União, por um prazo mais curto, é certo, mas de igual proveito. Portanto, nesse negócio rentável há muito de subsidio público. Algo assim que a iniciativa privada adora e venera em nome do lucro: o ideal do Estado minimalista.


Em contrapartida, sobraram-nos duzentos e cinquenta empregos para a tarefa de empilhar milhares de caixas de cervejas e, depois, limpar o chão da fábrica. Ademais, passados esses oito anos a pleno vapor não se consegue enxergar a presença da Schin na cidade; percebe-se um desquite, desprezo mesmo pelas coisas e tradições nossas. Nenhum apoio se materializa, nenhuma ínfima migalha se arranca de lá para, por exemplo, patrocinar a cultura ou o esporte local, menos ainda uma atitude para compensar na degradação ambiental provocada. Por quê? Porque 90% da produção são exportados e o suor dos nossos impostos, transformados em isenção para a Primo Schincariol, não lhe serve de argumento para um casamento de mútuas contribuições sociais entre a fábrica e a cidade.


Vou fazer minha parte, vou criar um banner de propaganda negativa da marca da cerveja e expor neste blog, com dizeres assim: “Não beba Schin nem que a vaca tussa”. E quem quiser que faça a sua parte!

15 de outubro de 2009

NO DIVÃ DAS PALAVRAS

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A IMAGEM, CORPO E A VIOLENCIA
Gilvaldo Quinzeiro






A “Imagem” é mãe, não do espelho, mas daquele que, sem este, não se (re)conheceria, isto é, do corpo, mas, não do corpo qualquer – o Corpo cujo imago é também a imagem do Outro, a saber, o homem. Dito de outra forma, o espelho, sem a imagem, é como a palavra sem o Outro.


Numa época em que as palavras se tornam escassas em comparação com a quantidade de coisas para serem significadas, “as imagens” se tornam não só prevalentes como até a sua “antropomorfização”, o tormento para Corpo que sem a mediação do Outro vive em si “o inferno” que antecede as palavras.


Fato este que nos faz retornar às condições de vida nas cavernas, onde o corpo era usado como “coisa em si”, para de si se (des)coisificar. Neste sentido, o corpo funciona também como substituto da mais arcaica ferramenta de trabalho e de guerra. Certamente, antes de o homem dominar o mundo com as palavras, o fez com o uso do corpo.


O que se observa no nosso tempo é a perplexidade, a “não-palavra”, diante da esmagadora quantidade de estímulos que não encontram meios adequados para se efetuar a descarga. “Bombas explosivas”, eis no que se constituem os corpos.


A violência é uma das consequências desta perda de referencial no mundo das palavras, e que atinge a todos, mas de modo especial aos jovens. Estes, sentindo-se despedaçados jogam seus corpos em batalhas sangrentas, como se fossem um simples brinquedo para obter, enfim, o esmagamento real do corpo - resposta sem palavras - ensaio para uma possível e nova civilização (?).


A violência é uma linguagem. Uma linguagem em resposta ao “que de si se perdeu, o que a si nunca pertenceu, num duelo pelo si para si com o não-outro”; tal como o cão que reage à perda do osso, para o outro cão que pelo osso fez de si o para si. Ou seja, sendo uma linguagem que antecede a fala que antecede ao sujeito, a violência se dirige ao “não - outro” que, pela sua falta, não edificou o “sujeito” e, este, por sua vez, se depara com o não-objeto que instala em si o si da falta.


Do anunciado acima chegamos à conclusão de que a violência é uma resposta ao “apagamento do sujeito” pela falta de alteridade. Em outras palavras, a violência é o “vir–a-ser” que já é em si o que não deveria ser, por não ter quem dialoga com ela.


Nos tempos primevos o paradigma do sujeito era a mãe-natureza, que por si só coincidia no que o homem se identificava; nos tempos atuais, porém, quem é a mãe dos homens? A resposta a esta pergunta não é a mesma que responderá as causas da violência?

14 de outubro de 2009

Província de Candongas

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Cato essa notícia da mídia nacional: a Câmara de vereadores de Ribeirão Preto (SP) acaba de desomenagear José Sarney, ao apagar seu nome, que referenciava um importante logradouro público daquela cidade. O motivo, segundo alegações dos parlamentares, tem a ver com a indigência moral do senador, o que estava sujando a imagem do município paulista. O senador desmereceu a homenagem lhe concedida ainda quando presidente da República, ao se comportar na atualidade de maneira indecorosa.


Em Caxias há mais obras batizadas com o nome do clã maranhense do que urubu sobrevoando nossos céus. Só para exemplificar: Centro de Cultura Acadêmico José Sarney – antiga fábrica têxtil. Ali, no patrimônio arquitetônico construído no século XIX, logo no vão da entrada, expõe-se um busto de bronze paramentado de imortal conservando o culto à personalidade do onipresente senador. Outra menção de obra que carrega a marca do clã: Ponte Fernando Sarney – aquela que emenda o centro ao bairro da Tresidela. Uma construção erigida no mando do ex-prefeito Paulo Marinho, que exigiu o batismo candonga.


Se os nossos vereadores não fossem, com raríssimas exceções, vaidevinos, sem gosto público, bem que poderiam adotar a atitude de seus colegas de Ribeirão Preto, refutando esses excrementícios. Prestariam um grande serviço à cidade, de causar orgulho, revolução urbanística e transgressão política; mesmo pra dizer ao Brasil, que nos ironiza, que nosso sangue de escravo já esmaeceu há muito tempo. Ou desencarnamos esses símbolos egocratas, ou quedos para sempre em obediência ao senhor, amém.
Mas, qual deles se habilitará a tamanha proeza?

13 de outubro de 2009

Inauguração do Busto de Gentil Meneses

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Aconteceu neste domingo, dia 11 de outubro, a inauguração do busto do acadêmico Gentil Meneses, na biblioteca da Academia Caxiense de Letras, que leva o seu nome. Estiveram presentes a família e amigos da família do homenageado. E, seguindo a simplicidade dos Meneses, o que deveria ser uma cerimônia tornou-se um alegre sarau, onde foram destiladas poesia e música na alegre e quente tarde de outubro. D'algum lugar o velhinho sorriu em aprovação.



CRÔNICA DA SEMANA

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Uma voz no deserto
Gentil Meneses, junho de 1959

Não desejo coordenar épocas e fatos, nem remontar aos distanciados dias em que Caxias mereceu realmente o título de "Princesa dos Sertões". Sua alteza já não tem as falanges engastadas de esmeraldas, nem ostenta, por certo, nas augustas mãos, o cetro imperial. N]ao é mais a Princesa de real grandeza, mas sim uma velhinha de cabelos brancos e rugas na face triste, por onde vão rolando as desilusões e as esperanças mais fagueiras.

Caxias se ufanava, como nenhuma outra cidade no interior do estado, de possuir seu parque industrial próprio, constituído de quatro grandes fábricas de tecido em pleno e próspero funcionamento.

Três de nossas fábricas desapareceram. Suas atividades foram encerradas, irremediavelmente, para sempre. Seus materiais, tais como teares, cardas, caldeiras, está sendo vendido para terras longínquas, onde o progresso vem encontrando profundas ressonâncias no espírito dinâmico do nordestino.

Molhei com lágrimas o chão da praça "Dias Carneiro", quando vi partirem daqui dois caminhões carregados de peças e acessórios importantes de nossas fábricas.O espetáculo é de entristecer. Representa para nos a decadênica,o aniquilamento, o abismo para o qual vamos marchando a pasos largos.

O barulho dos teares, outrora um movimento constante, já ão ressoa aos nossos ouvidos num compasso feroz de música, de música poderosa e bárbara, que se assemelhava a um hino de louvor ao homem. ao operário, testemunhando sua força vital exuberante.

O fechamento dessas fábricas, para seus operários, não foi apenas um acidente, mas sim um descalabro. E para nós outros, responsáveis, aparentemente, pelo fato, isso representa um atestado do desamparo em que nos encontramos, o campo deserto de cooperação Mas,em que trabalhamos e vivemos.

Mas, o problema realmente mais grave, ao que me parece, é essa incapacidade de se ver o sentido profundo das coisas. É ficarmos de braços cruzados, esperado que os problemas se resolvam por si mesmos à custa de esperarem soluções. Hesitamos diante da evidência dos fatos. É ridícuo presenciarmos o descalabro, sem tomarmos uma providência séria.

Infelizmente é o individualismo que reina entre nós. Cada um quer devorar o outro numa luta febril, num corpo a corpo mudo e obstinado.

Não nos faltam homens experientes, espíritos ponderados e, sobretudo, capacidade de trabalho. Mas, falta espírito de abnegação, amor à tera comum, congregação de esforços em prol da causa coletiva, da recuperação econômica da velha cidade de gloriosas tradições.

12 de outubro de 2009

Para os interessados em arte

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O garoto que não queria ser nada...

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Quando eu era criança lá em Barbacena, ou melhor, lá em Floriano (Pi), alguns amigos da minha rua tinham uns sonhos estranhos. Uns queriam ser médicos, alguns, construtores (hoje em dia conhecidos como empreiteiros), pois na nossa turma havia gente com tio "construtor“. Outros queriam ser professores (na minha família tinha professores), mas alguns não queria ser nada. Eu era um deles. Se bem que eu cheguei a sonhar em ser jogador de futebol, em ver o meu nome ser gritado ao entrar no gramado do Maracanã: "Fabinho! Fabinho!“. Claro, vestido com a camisa do Mengão! Mas, naquele tempo, eu não sabia que jogador era uma profissão, eu via a figura do jogador como um artista.

Como a vida é cruel, fui levado para o "sul maravilha“, para Sampa ("São Paulo é o mundo todo“) e lá fui o que eu não queria ser. Fui reparador de circuitos eletrônicos e auxiliar técnico de eletrônica. Estudei no SENAI e no colégio Jesus Maria José, onde não aprendi muito bem as profissões exercidas. Deu no que deu, depois de ter lido On The Road de Jack Kerouac! Me cansei de acordar às 5h da matina, bater cartão às 7h e sair às 17h do trampo. Larguei o emprego e peguei a estrada, a Infinita Highway. Eu havia descoberto o que eu queria ser: eu queria ser escritor! Não fui, não sou e nunca serei! Frequentei a universidade de Caxias e os bares, trabalhei em loteria, fui vendedor de livros, fui falso jornalista e até poeta...

Fernando Pessoa disse certa vez que ser escritor e poeta não é profissão.
- Seu Pessoa, pois eu... eu quero ser poeta!



Fábio Kerouac, poeta e ex-lavador de pratos
Hamburg, Alemanha

9 de outubro de 2009

Lula é Empolgado

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“Lula, o filho do Brasil”, o filme – estréia nas telas dos cinemas brasileiro em janeiro de 2010. O longametragem é homônimo do livro escrito pela jornalista Denise Paraná, e trata da biografia do presidente, da saga da família Silva, da aventura do menino pobre até sua chegada ao Planalto. Um feito e tanto pra quem já nasceu anunciado de morte.


Mas, o filme também exibirá outra realidade: apenas 8,7% dos municípios brasileiros possuem salas de exibição cinematográficas, em sua maioria concentradas nos grandes centros urbanos, em shopping centers. Nesse pormenor, o país desabou de três mil salas existentes na década de setenta do século passado para um pouco mais de duas mil na atual data. Uma triste realidade! O filme de Lula não será visto em 4.455 cidades brasileiras; algo que revela nosso paradoxo cultural. Enquanto cresce o número de obras produzidas no país, o número de salas de exibição decai. O cinema é, pois, um desejo de consumo de poucos, é frequentado por apenas 15% da população.


Recordo-me de outra situação, quando, nos idos de setenta, minha cidade sustentava o Cine Rex e o Cine São Luis. Aqui, por exemplo, assisti ao clássico nacional “A faca e o rio”. Guardo no bolso da memória o filme “Garganta profunda”, do gênero da pornografia. Os finados cines daqui disputavam as novidades. As noites de sábado reservavam-se aos casais, enquanto no vesperal de domingo frequentava a meninada e as sessões de segunda eram da exclusividade de madame Diraci, acompanhada de suas moças.


Quiçá, o presidente Lula com essa mania de grandeza, mesmo no limiar de sua despedida, resolva pelo interesse que lhe move o filme, ao contar sua história, incentivar a criação de salas de exibição por esse Brasil afora. Ajudaria muito a fluição cinematográfica brasileira  e garantiria maior exposição a milhões de gentes tão privadas dessa linguagem cultural que é o cinema. A saga do presidente em tecnicolor seria um sucesso. Olha que o Lulinha é empolgado, se atiçarem ele tira do pré-sal as condições pra arrotar assim: “Nunca na história desse país...”

8 de outubro de 2009

NO DIVÃ DAS PALAVRAS

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O NÃO-VIVIDO, QUE DOR!
Gilvaldo Quinzeiro







O não-vivido vive em nós para sempre, até ser vivido. Não como o não-vivido, mas o que vive em nós a espera de ser vivido.


O não-vivido é a (des) palavra que só “palavrisa” quando vivido. O “gozo” é desta ordem do inefável, isto é, como nós nunca o verbalizamos este nos faz vivermos para repeti-lo, ainda que nunca consigamos dominá-lo.


Assim sendo, o não-vivido nos transforma em gado cujo capim não consegue saciar a nossa fome, e nem a mais cristalina das águas, a nossa sede.




Em outras palavras, o que Freud explicava ainda nos causa dor, a mesma dor que dói naqueles que desesperadamente tentam (des)explicar Freud para ocultar suas dores - exatamente como Freud explicava – o que não conseguimos explicar em nós “somatiza-se e dói”, tal como doerão em Marte as mesmas dores que levarmos da Terra!


E em chegando em Marte, as dores da Terra quando explicadas por outrem, assim como Freud explicava a nossa dor, não serão tão somente as dores da Terra, mas também as nossas próprias dores.

Pena que enfrentar a dor também doa! Mas, o que dói mais, as explicações de Freud sobre as dores ou as dores pelas quais ainda não se têm explicações?

7 de outubro de 2009

Crônica da Semana

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Poesia de Lavadeira

Encontrei-a, por acaso, depois de muitos anos de ausência desta cidade. Cabeça branca. Passos trôpegos. Olhar firme. Voz suave.

Seu rosto e seu nome não me eram estranhos. Tivera uma vida simples como até hoje. Maria nasceu pobre e continuava pobre. Acomodara-se dentro da sua funda solidão, sem revoltas nem queixas. Mas, sentia-se feliz ao relembrar toda a sua mocidade: O tempo em que vivera junto ao nosso Itapecuru, sorvendo a doce brisa das águas mansas do rio. Pés descalços, cabeça soterrado pelo peso do fardo de roupas, assim Maria inclinava a faina de todos os dias, nem bem o sol surgia.

Alegria no rosto simples. Bondade no coração sem maldade. Maria ficava diante da paisagem imutável do rio, contemplando suas margens tranquilas e verdejantes. Seu mundo era aquele pedaço de chão. E suas recordações eram os segredos que aquelas roupas guardavam.

Foi lavadeira de quase todas as casas de família desta cidade. Lavou roupas grossas e finas, de pobres e ricos. De velhos e de moços. Mas o que ela gostava mesmo era de lavar roupas dos casais em lua de mel. Roupas que denunciavam momentos vívidos de amor. Noites de prazeres e madrugadas de sonhos. Roupas que falam. Roupas que vivem. Roupas que eram levadas para a fonte ainda com o suor das intrigas e dos mal-entendidos. Roupas de músicos com todas as notas musicais. Roupas tristes de amores extintos. Roupas alegres, belas como as rosas, vivas como os lírios. Roupas que representavam, em suma, a vida de seus próprios donos. Roupas que não tinham segredos para Maria, a lavadeira.

E Maria tinha também os seus segredos, as suas recordações, a história de seus próprios amores. E quem não os têm?

Gentil Meneses
O autor completaria, hoje,
94 anos, se vivo fosse.

6 de outubro de 2009

Oxalá!

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Ouvia-se um estribilho de guerra ecoar por mil bocas na 11ª Conferência do PCdoB, realizada no último fim de semana nas dependências da Assembleia Legislativa, em São Luis. Algo que empolgou corações idealistas, mexeu com a esperança de todos, e atiçou os ávidos por girar a roda da história no Maranhão.


Flávio Dino disse sim; casou-se com a vontade manifesta que promanava de todos ali presentes, quando se disse disposto a ser o próximo governador do estado. Do palrador rascunhou o terreno propício para palmilhar a vitória: a tríplice união entre PCdoB, PT e PSB. Evocou a militância a sonhar de por cima da cerca, rasgar os trajes de ontem, vestir-se de amanhãs. Repercutiu-se de Guará, o pássaro de plumagem de um vermelho intenso, de revoada coletiva, que ao tardear migra ao alcance do pôr-do-sol para anunciar a vida renovada. Foi assim, com esse enlace de otimismo que se deu a conferência.


Oxalá o povo se repinte com as cores da promissão e que espantalhe com avoaçar os abutres que aqui, apenas e somente, pululam de uma para outra carniça. Oxalá! Porque d’além das cercas emana um Maranhão de coisas e gentes monumentais.

O Rio

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Um Rio

um samba morto
do morro
que vejo daqui de Copa


Que dor em mim!
ouvir os gritos,
meus e dos meninos,
como tamborins em quarta de cinzas.


Vejam os ricos e os riscos
que brincam na Barra,
ou ainda numa barca que passa,
lá na Guanabara.


Não vejo o medo aqui,
vejo sim, o sorriso aberto do carinho
amigo, que ora me assusta,
ora me alerta, o Rio é assim...


O sol aqui ainda é bonito e suave,
ainda consigo sonhar,
com pessoas bronzeadas,
com os camelôs na labuta,
no samba que ecoa nos ares junto com os silvos,
no Rio que recebe os gringos,
no carioca que brinca de ser feliz.


É gol na Gávea, é gol em São Januário,
é gol no portal do Brasil, o Rio
que sacode a sujeira que vem do mundo
que vive em busca de si no mundo.


fábio kerouac, poeta e lavador de pratos
hamburg, alemanha

Atestado de Competência

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Por: Ricardo Marques.

A Estação Gráfica, do publicitário Carlos Alberto, foi escolhida a primeira gráfica do Maranhão a ganhar o Prêmio de Excelência Gráfica Norte/Nordeste. O prêmio é uma iniciativa da Associação Brasileira da Indústria Gráfica, e o trabalho premiado foi o livro Nasci e Cresci com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de autoria da agência de notícias Matraca, sob a coordenação da jornalista Lissandra Leite, com diagramação de Ronilson Freire e fotos de Márcio Vasconcelos.

Tenho amigos que não gostam quando digo que o publicitário Carlos Alberto é um dos mais competentes do estado. Compreendo que ninguém está obrigado a gostar dessa ou daquela pessoa. Mas deixar de reconhecer valores é burrice.

Ano passado, Carlos Alberto esteve à frente de campanhas eleitorais importantes; ganhou todas: Caxias, Coelho Neto e Coroatá. Em Codó, Biné Figueredo até hoje se arrepende de tê-lo preterido, após a vitória de 2004.

O publicitário também fez bonito em São Luís, quando ajudou a levar Flávio Dino para o 2º turno – que muitos, inclusive este redator, consideravam impossível.

O prêmio da Associação Brasileira da Indústria Gráfica é um atestado de competência do moço. Pena que estejamos em lados opostos.


Tecnologia - A Estação Gráfica é a mais moderna gráfica do Maranhão e conta em seu parque industrial com uma impressora offset Lithrone LS 429, formato 52×72 cm, 4 cores da marca japonesa Komori e uma impressora PM 52-4, formato 36×52 cm, 4 cores da marca alemã Heidelberg. Toda sua linha de acabamento é automatizada com alceadeira, com grampo e corte trilateral Muller Martini; encadernadora Heidelberg; guilhotinas programáveis Guarani e Polar; e tem uma área de pré-impressão com Computer to plate – CTP Heidelberg.

A Estação fica na Rua Alfa Crucis, 38 – Recanto dos Vinhais, São Luís, e seu telefone: 098-3236-9177, com site na internet (http://www.estacaografica.net.br/), e e-mail comercial (estaçãografica@gmail.com

3 de outubro de 2009

O trânsito de Caxias

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por Dilson Aquino Sousa

O trânsito em Caxias realmente é um Deus nos acuda. Mas os verdadeiros culpados por isso são as autoridades competentes que não o sabem organizar, ou não querem, para favorecer uma minoria privilegiada; pois acabei de comprovar isso, ontem e hoje, quando fomos convidados por um agente de trânsito para retirar o carro de som que nos auxiliava na paralização dos bancários, que realizávamos em frente ao Basa. Naquela área que não tem movimnto de trânsito, segundo o agente que nos abordou, não poderiámos ficar. Ora, a greve é legal, a Constituição nos garante, e também, por lei, podemos colocar carro de som em frente aos bancos que estão em greve. Tudo bem, nós até podiamos entender o trabalho do agente de trânsito. O que não deu pra entender foi porque alguns carros de figurões e de algumas empresas podem estacionar ali por horas sem fim, sem serem incomodados pelos agentes. E isso não é mentira, não, posso comprovar por fotos e vídeos que seguem anexos.




2 de outubro de 2009

Compartilhamento de Idéias

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O texto do Dr. Gilvaldo é muito inteligente, é uma reflexao muito sábia que nos mostra a importância do relacionamento pais e filhos, e deve ser fundamentado no amor e no diálogo. Estes recursos são indispensáveis ao entendimento, à paz e à harmonia dos membros da família.
Outros recursos são importantes, mas estes não podem faltar nunca sob pena do relacionamento se degenerar em desentendimento.
É indispensável que pais e filhos cultivem o amor. Com ele no coração, as pessoas se tornam mais compreensivas, pacientes e indulgentes para com as imperfeições e faltas dos outros.
O diálogo deve ser uma prática constante em família. A rigor, deve começar antes da reencarnação dos filhos, quando os espíritos que virão na condição de filhos se aproximam dos futuros pais. Deve continuar durante a infância, quando os pais, esforçando-se para descer ao nível das crianças, fala sua linguagem e se fazem compreendidos.
Na adolescência, o diálogo tem importância capital, não podendo ser negligenciado de maneira alguma. Nesta fase, é necessário agir com muito tato e tolerância, porque os adolescentes costumam ser mais sensíveis e emocionalmente instáveis e inseguros. E os adultos têm mais condições de compreendê-los.
Após a adolescência, é ideal que o tratamento, que era de pais para filhos adolescentes, passe a ser de adultos para adultos, porquanto os jovens já sabem discernir bem o certo do errado e já têm condições de escolher o seu caminho, embora não devam dispensar as orientações e experiência dos pais.
A liberdade é um dos direitos da criatura e deve ser proporcional à maturidade e responsabilidade de cada uma. É ideal que a liberdade seja concedida aos filhos de acordo com a responsabilidade. Mais do que uma concessão, deve ser uma conquista dos filhos que, para isto, devem procurar agir com muita responsabilidade. Quanto mais maduros e responsáveis, mais liberdade conquistam.

Valéria Kataki  GO

PCdoB vai confirmar pré-candidatura de Flávio Dino ao governo em encontro estadual

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Cerca de 600 delegados representando os diretórios municipais do PCdoB em todo o estado irão confirmar neste final de semana a pré-candidatura do deputado federal Flávio Dino ao governo do Maranhão nas eleições do ano que vem. O ato será durante a realização da 11ª Conferência do partido, que também elegerá a nova direção e os delegados que representarão o Maranhão no 12º Congresso do PCdoB.
A direção do PCdoB reafirmará o nome do deputado, mas adianta que não se trata de nenhuma imposição às demais forças. “Estamos apresentando uma alternativa concreta para apreciação das demais forças democráticas, populares e progressistas do Maranhão; estamos oferecendo uma contribuição para construirmos um rumo de mudanças reais em nosso estado”, explica o presidente do partido, Gérson Pinheiro.
Para o ato político da Conferência foram convidados vários partidos políticos, parlamentares, prefeitos, lideranças sindicais, populares e religiosas, além da militância do partido. Conforme Gérson Pinheiro, “será um ato para defender a unidade das forças democráticas e populares do Maranhão e fazer um chamamento à grande luta que travaremos para que as mudanças ocorram efetivamente”.
Festa para novatos – A Conferência comunista também será palco da festa de boas vindas aos novos filiados, entre os quais o deputado estadual Rubens Júnior. O PCdoB mantém a expectativa de novas filiações até sábado, mesmo já tendo contabilizado adesões importantes. “Estamos conversando com várias lideranças nesta reta final do prazo de filiações e com certeza iremos receber mais algumas importantes adesões”, anuncia Pinheiro.

Márcio Jerry

1 de outubro de 2009

NO DIVÃ DAS PALAVRAS

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A ÀRVORE E O GAFANHOTO, UMA REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS.

Gilvaldo Quinzeiro


1 – O amor que substancialmente é como o alimento só nos garantirá o sustento na medida em que suas sementes brotarem em nós as raízes do amor próprio, condição esta que nos faz forte o suficiente para sobreviver às perdas do amor dos outros por nós.


2 - Este amor que nos faz “árvore” de nós mesmos é o amor paternal, que se não dado o suficiente pode nos elevar à condição de “gafanhotos’ de si mesmos. Em outras palavras, o amor quando não dado na qualidade e quantidade certa pode ser tão devastador quanto o ódio. Do mesmo jeito que as chuvas quando em excesso provocam tragédia nas inundações, tais como as que ocorreram recentemente no Maranhão. Isto significa dizer que:


a) – Aos pais, melhor seria amar os filhos na perspectiva de que estes aprendessem a ter amor próprio, a sufocá-los por toda uma vida, na dúvida de que não são amados por estes;


b) – O amor que nos faz “árvore” de nós mesmos é aquele que me faz ter amor por mim, ainda que os outros não me soubessem amar.


3 – Os “gafanhotos” de si mesmos, de tão famintos, comerão as poucas sementes plantadas dentro de si, de modo que, quando amando os outros, o fazem com a volúpia de quem devasta uma floresta.


4 – Os pais, no entanto, tais como os filhos, não se tornarão “árvores” de si mesmo, se o amor com o qual estes amam os filhos, não se originar antes de tudo do amor próprio.


5- Florestas devastadas serão os pais sem amor próprio, um ambiente tão estéril e impactado quanto os das roças que estão por serem queimadas pelos lavradores da nossa região.


5 – Devastada a floresta, infestação de outras e mais terríveis pragas: a da “geração mala”!
 

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